Ondas de calor no Rio e verão com termômetros nas alturas acarretam problemas na economia e na saúde da população

Prefeitura e empresas de luz e água falam sobre planos para não deixar os cariocas sem assistência em meio ao calorão

“Esquentou, né?”. O comentário frequente em conversas improvisadas agora ganhou status de assunto da vez em todas as rodas de conversa e jornais. Esquentou, e esquentou muito. Os aumentos repentinos nos termômetros foram tão altos que impactos negativos estão sendo sentidos na economia da cidade e na saúde e bem-estar da população.
Um dos resultados imediatos deste calor intenso são os ‘apagões’, principalmente na Região Metropolitana e na Baixada Fluminense, devido à elevação súbita na demanda e no consumo de energia, que pode levar à sobrecarga na infraestrutura do país. Em Duque de Caxias, a Sorvetiamo, uma empresa local de gelatos artesanais, teve que fechar as portas, no último fim de semana, por falta de luz. A proprietária Deborah Moreira estima que a sorveteria perdeu cerca de R$ 20 mil com o ocorrido: “Sábado é um dia ótimo para venda, ainda mais neste que tinha previsão de temperatura alta e era seguido por um feriado. Eu havia contratado dois motoboys, fiz um investimento caro, me preparei para ter um fim de semana bem bacana. Todo sorveteiro pensou isso, na verdade. Só que aqui eu não pude realizar. O produto da sorveteria é artesanal, não tenho estoque grande. Quando produzo para mais dias, é um custo oneroso, pois a matéria-prima é cara. Quando a loja para de funcionar por falta de energia é muito ruim, mas quando tem perda é pior ainda”, desabafa.
Deborah relata que a queda de luz é frequente nestes seis anos em que mantém o ponto. No entanto, nunca aconteceu de ficar sem energia por tanto tempo como no sábado: “Sempre sabemos que vai acontecer, mas nunca foi por tantas horas assim. Seis horas sem energia é muita coisa. Sempre que falta não dá para trabalhar, pois o nosso trabalho é vinculado à energia elétrica. Como somos uma empresa pequena, não temos gerador e nenhum outro escape. O nosso trabalho vai todo embora”, reclama.
Na quarta-feira anterior, Duque de Caxias já havia ficado sem luz durante a madrugada. Como nenhum produto estava sendo manipulado, não chegou a ter perda de mercadoria, mas equipamentos de refrigeração não foram poupados: “Perdemos um compressor do ar condicionado do laboratório e uma peça da tina de maturação. Foi necessário pagar eletricista e técnico para consertarem os aparelhos, e comprar o motor do ar condicionado. Para nós, que somos uma empresa de pequeno porte, todo investimento é muito difícil. E estes são gastos que eu não deveria ter”, afirma.
A falta de luz é apenas uma das emergências vindas com o cenário de verão fora de época, quando as temperaturas mais altas levam a um aumento significativo do volume de energia distribuído pelas empresas. Medidas devem ser tomadas para que a população não fique mais às escuras. A Light informou que preparou um plano especial de operação para o próximo verão, com uma série de ações integradas, preventivas e emergenciais para minimizar os efeitos das tempestades, ventanias e sobrecargas de energia. Segundo a distribuidora, ela poderá aumentar em até 60% o número de equipes em campo, chegando a cerca de 500 profissionais, para qualquer tipo de atendimento.

“Nos dias em que houver maior número de ocorrências, mobilizaremos técnicos e eletricistas que atuam em atividades de manutenção, expansão de rede, alta tensão, subterrâneo, corte e religação e recuperação de energia para atendimento emergencial. A ideia é trabalhar para restabelecer o fornecimento de energia da forma mais rápida possível nestas ocasiões”, afirma o Superintendente de Operações e Engenharia, João Paulo Parreira.

Em relação à manutenção preventiva do sistema elétrico, a Light afirma ter atuado, neste ano, em 1445 linhas da rede de distribuição. No mesmo período, foram executados, aproximadamente, 72 mil serviços de manutenção e modernização da rede elétrica e cerca de 148 mil podas em galhos de árvores próximos à rede.

Falta d’água

Um outro efeito direto do clima mais quente é o comprometimento de abastecimento de água. A conexão entre os dois é clara: com as temperaturas nas alturas, há mais consumo de água. Cariocas de diferentes bairros têm passado perrengue sem o recurso em meio ao calorão. Moradores da comunidade Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul, sofreram mais de sete dias, completados na última semana, com a falta de abastecimento de água. À ocasião, a Águas do Rio informou que o fornecimento de água estava em processo de recuperação gradativa para voltar à normalidade após intercorrências que causaram a interrupção no abastecimento.

Questionada sobre como se preparará para o verão, a concessionária, responsável pelo atendimento de 10 milhões de pessoas em 27 cidades do Rio, informou que vem realizando um combate às perdas (vazamentos e “gatos”), regularizando e aperfeiçoando as medições de consumo, modernizando sistemas, implantando e substituindo equipamentos, reformando reservatórios e investindo em tecnologia para trazer mais água para o sistema e gerir o recurso de forma eficaz. A empresa disse
ainda que, na próxima semana, aproveitará o período de interrupção do Sistema Guandu, em função da manutenção da Cedae, para realizar cerca de 70 ações de melhoria e recuperação nos sistemas de distribuição de água da Capital e Baixada.
A empresa se refere à manutenção preventiva e anual realizada pela Cedae da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu, para garantir a produção de água durante o período do verão. O serviço estava inicialmente previsto para acontecer na última quinta-feira (23), mas foi adiado para a quinta-feira da próxima semana (30), devido às altas temperaturas e às falhas no fornecimento de energia elétrica, que prejudicaram a distribuição de água pelas concessionárias. Durante o serviço, técnicos farão inspeções e correções para reforçar a eficiência do sistema, como instalação de equipamentos, reparos gerais, ajustes eletromecânicos, revisão de peças e limpeza das estruturas que não podem ser acessadas durante a operação normal.
A companhia não é mais a responsável pela distribuição de água na Região Metropolitana. Agora, cabe a ela somente a produção de água (captação e tratamento). A distribuição está a cargo de, além da Águas do Rio, a Iguá e a Rio+Saneamento.
A Iguá, que atende os bairros Barra da Tijuca, Camorim, Cidade de Deus, Curicica, Freguesia, Gardênia Azul, Anil, Grumari, Itanhangá, Jacarepaguá, Joá, Pechincha, Recreio dos Bandeirantes, Tanque, Taquara, Vargem Grande, Vargem Pequena e imediações, comunicou em nota que vem realizando investimentos para aperfeiçoar o abastecimento de água, principalmente durante o verão.
Entre as principais melhorias realizadas, a concessionária diz que já investiu mais de R$ 120 milhões em reformas de 96 estações elevatórias, que são estruturas responsáveis pelo bombeamento da água e do esgoto. As renovações têm como objetivo assegurar a continuidade e estabilidade da operação. Com as modernizações, as elevatórias passaram a estar conectadas ao Centro de Controle Operacional, criado pela Iguá para monitorar os sistemas, operando 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Procurada pela reportagem, a Rio + Saneamento, concessionária de 24 bairros da Zona Oeste, não respondeu sobre os seus preparativos para o verão até o fechamento desta matéria.
Fonte: O DIA
Prefeitura anuncia ampliação de áreas verdes e pontos de hidratação para diminuir impacto do calor no Rio
Confronto termina com um morto e três presos em Maricá

As mais lidas

WebTV

Rádio

Podcast